quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Insensível

Hoje a maçaneta da porta pegou na minha mão de um jeito diferente. O chão foi tocando meu pés como se fosse uma nuvem ou um lago bem raso que deslizasse meus passos. O copo tocou minha mão, a água pulou em minha boca. A roupa vestiu meu corpo. O sol tocou minha pele e aí a janela fechou minhas mãos. Não, as janelas pediram que minhas mãos as fechassem, ou talvez nem isso. A cama pediu meu corpo. O sono pediu minha alma. Eu passei sentindo o mundo. Cada toque. Cada cheiro. Cada sensação. E você? Já parou pra sentir esse mundo de quentes, gelados, doces, amargos, azedos, salgados? Já parou pra pensar que o contrário de doce não é sempre salgado? E que doce nem sempre é um doce mas pode ser um pecado? Já parou pra pensar que você "pega" e não toca as coisas com o valor que devem ser tocadas? Já pensou no estrago com essa insensibilidade que pode ter feito a um coração?

sábado, 22 de novembro de 2008

Perder o amor ou perder-se de amor?

Quando elas perdem a pessoa amada se afogam num copo de vinho ou mesmo se embriagam com cigarro, chocolate e coca-cola. Culpam o mundo, as outras mulheres, o futebol com os amigos, o egoísmo, incompatibilidade de gênios, se auto-destinam as vítimas do fim do namoro ou mesmo do fim do mundo. Se agarram então a livros de auto-ajuda, filmes românticos, músicas depressivas, roupas do século passado e o corte de cabelo que a vovó achava uma gracinha. As vezes correm atrás e correm atrás e não se cansam de ganhar uma sequência de 'nãos' em progressão geométrica. Nessa época se perguntam os 'por quês' de praticamente tudo. Até da própria existência. Ficam encucadas se bastante tem plural ou não e nunca concordam com a resposta dada, seja pelo bêbado da rua ou pelo professor doutor em linguística da universidade federal da pqp. Elas não querem concordar. Não aceitam o próprio erro. E mais um cigarro, uma xícara de café, um laka, uma partida de baralho, uma piada sem graça, uma história sem final, gagueira e enfim as lágrimas vindo como consolo pra tanta babaquice junta. E no fundo o não admitir. Quando acompanhadas se acomodaram a um beijinho estalado como adeus, ao concordar sem prestar atenção, a contestar coisas sem sentido por ciúme indevido. Procuraram na carteira deles sempre a foto de outra e nunca viram que a delas estava no compartimento principal. Procuraram na camisa deles o cheiro de outras mulheres sem ver que o perfume delas é que estava em seus travesseiros. Viram nos amigos rivais ao invés de uma ótima companhia. Não souberam reconquistar o que já estava conquistado mas não definitivamente. Gostar mais a cada dia. Mais e mais e mais. Nada é conclusivo. O amor está sempre em fase de mutação. E elas agora ao invés de se perderem de amor perderam o amor. E entre café, cigarro, as vezes algo ilícito procuram o alívio pro coração que elas mesmas resolveram machucar. E de repente os livros de auto-ajuda estão no chão. O bastante passa a ter plural. As saias se encurtam, o sorriso volta e a magia de reconquistar todos os dias passa a ser primordial na vida delas. Chega de vinho e cigarros. Agora elas só querem ser felizes de verdade. Com a certeza absoluta de dessa vez conhecerem o amor. Porque agora tudo faz todo o sentido do mundo. Porque o por que que se escrevia separado agora se escreve junto. E dane-se quem não entender. Porque essa é a graça da vida.

domingo, 16 de novembro de 2008

Chuva

Hoje a chuva tomou conta do dia. O céu transitando entre o preto e o branco reflete exatamente o que os meus olhos querem dizer. Mas mesmo assim eu gosto da chuva. Numa música Raul Seixas diz: " Eu perdi o meu medo, o meu medo, o meu medo da chuva. Pois a chuva voltando prá terra trás coisas do ar...". Quando ele diz medo três vezes acaba me deixando a dúvida de ele realmente perder o medo. É como quando vamos a casa de uma tia qualquer e ela nos faz comer algo que não gostamos e nós repetimos: gostei, gostei sim, gostei muito. Mas como ele é o compositor e de músicas nada entendo prefiro pensar nisso como uma mera hipótese. "Depois da tempestade vem a bonança". Acho que isso e o trecho da música pesam muito em minha vida. Com os primeiros pingos vêm o cheiro de terra que recarrega a alma de natureza, depois o friozinho, a calmaria, o sossego. As vezes o medo dos raios mais fortes mas sempre a esperança de que ele vai passar. Geralmente nessas horas as pessoas rezam, mas pouco adianta pois qualquer deus ou anti-deus é surdo ao barulho dos trovões. E depois que a chuva passa, pela vontade simples da natureza o ar fica mais puro. O cinza que os olhos refletiam se desfaz. Amanhã vai ser dia de sol. E o mais interessante. A gente descarrega junto com a chuva e o Sol acaba nascendo mesmo é dentro dos nossos olhos. E as vezes a gente nem percebe...

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Sobre blogs

Li um artigo não sei de qual autor e muito menos em qual revista sobre blogs. Ele diz que os 'diários virtuais' são uma maneira da gente conviver o tempo todo com nosso próprio sofrimento visto que a maioria das pessoas escreve sobre os tabus da personalidade. Não concordo com ele. O objetivo de um blog não é virar um espelho para que o próprio autor fique lendo várias vezes ao dia e se sinta mais encabulado com seus traumas, sua timidez ou seu problema. Se escreve no blog pra que algumas pessoas saibam como conviver melhor, entendam coisas que muitas vezes a boca não quer dizer mas os dedos não exitam. E aí me vem um babaca querendo pregar que é uma forma de narcisismo. Blog = espelho dos sofrimentos. Na certa ele é mais um daqueles que quando o filho cai e arromba os joelhos fala: 'Não foi nada não' ou 'Homem não chora'. Daqueles que se conforma com as diferenças das pessoas e acha que elas não podem lhe acrescentar nada com seus medos. Conheci um menino que o pai era justamente dessa forma. Quando ele não conseguia fazer alguma tarefa da escola o pai simplesmente e friamente dizia: 'Você é burro'. Ele cresceu se sentindo burro. Ele ainda se sente assim. Quer ser igual ao pai. Ou ao menos vê que o pai quer que ele seja sua versão jovem. Isso é patético. O menino sofre a cada nota baixa, lembrando de quando era criança e seus olhos sempre se enchiam de lágrimas com os 'esporros' de quem deveria ser seu herói. Mas o pai desse menino um dia vai ter orgulho ao ver o homem que ele é. Que homem chora sim. E que ele não se tornou igual ao pai no entanto pela pureza e sensibilidade tornou-se muito melhor. Além de ser... Humano. E esse babaca dos blogs descaradamente diz que blog é narcisismo. Só tenho pena dos seus filhos e mais nada. Tomara que eles nunca criem um blog...

sábado, 8 de novembro de 2008

Placebo

Eu espero o dia passar na expectativa de que o outro chegue logo pra passar rápido de novo. E assim sucessivamente vou vivendo a minha vida. Os momentos de alegria são intensos. Veja bem, digo alegria não felicidade, porque a felicidade agora é algo que não existe. E depois da intensidade da alegria vem a intensidade da tristeza. É vontade de dormir, de se agarrar ao travesseiro, de chorar até derreter, de se matar ou mesmo matar alguém. Efeitos estranhos da mente humana e que oscilam o tempo todo.
O sorriso no rosto é o efeito placebo pra que 'você' não se sinta mal. Porque o pior de se estar mal é ver as pessoas sentindo-se mal com o seu mal.Parece redundante mas é a mais pura verdade. Na maioria das vezes o seu problema incomoda mais aos outros que a você mesmo e assim nem consigo próprio você pode se preocupar completamente ou ao menos ser honesto. O mundo sempre nos ensina a ser desonestos.
Você tem que doar-se ao outro e controlar o que está passando. A angústia contagia, gera lamentação, compaixão que acaba levando a segunda pessoa ao estado de angústia também. E as vezes não temos o poder de intervir nessa transferência. Se entregar aos espíritos maus acaba sendo mais complicado do que parece. E quando eles quase conseguem te possuir a medicina vem com o codinome: 'depressão'. A vida como um bem não durável acaba sendo reciclada o tempo todo. Você pega um pouquinho daqui, um pouquinho dali, um coquetel de medicamentos e de repente é outra pessoa. Mas no fundo é sempre o mesmo: o que os espíritos maus tentaram aliciar. É novamente o efeito placebo. E ao que nos sujeitamos simplesmete o tempo todo. Por que será?




Ps: Já são 15:20, tomara que a noite chegue rápido. Preciso dormir até amanhã. Essa vontade de escrever certamente não vai durar mais que 40 segundos.